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Portfólio: Cezar Brites

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sábado, 28 de maio de 2022

O EXPERIENTE BRITES

 


Texto publicado originalmente na Folha de São Borja, 14 de maio de 2022

 

O EXPERIENTE BRITES

Em se tratando de eletrônica, Serzo Brites Rodrigues é legendário. Com mais de meio século de atuação na área, quem acompanha seu trabalho atesta: não há o que não conserte – em São Borja e região, e até mesmo na Argentina.

 

Texto: Adriana Duval

Produção: Gabrielli Leiria

Fotos: Miro Bacin e acervo particular

Revisão e edição de fotos: Miro Bacin

Projeto e diagramação: Daniele Godoi

 

Você, neste momento, está escutando rádio? Se, de repente, o silêncio imperar, acusando que a emissora saiu do ar, fique tranquilo. Não demora o Seu Brites entrará em cena, e novamente o som vai romper as distâncias e chegar onde você está. Aqui em São Borja, em Itaqui, São Luiz Gonzaga, Santo Antônio das Missões, e em Santo Tomé – Argentina –, Serzo Brites Rodrigues, nascido em 1946, é o homem das engrenagens eletrônicas que dão vida aos mais complexos equipamentos de radiodifusão. Um métier desenvolvido desde a época dos valvulados, na década de 1960, quando lia os fascículos de seu primeiro curso por correspondência em eletrônica, enquanto atendia na portaria do Hotel Charrua – hoje Obino –, das onze da noite às seis da manhã.

Certo dia, em 1967, recebeu o convite que o colocaria à prova: ser o responsável técnico da Rádio Fronteira do Sul. “Deixei o hotel e passei a trabalhar lá, com a manutenção dos equipamentos e assistência geral, junto à torre, no bairro Pirahy, e aos estúdios, no Centro. Também era operador de áudio, só não fazia locução”, esclarece.

Das experiências do passado, muitos episódios em que o improviso, coordenado pela junção entre conhecimento e criatividade, viabilizaram transmissões. “Fiz muitas mar cantes. Lembro de uma, de futebol, lá de Itaqui, em 1968 ou 70, quando não existia aparelho transistorizado. Nós ocupamos a linha da estação férrea, puxamos fio”, explica. “Era bem difícil de fazer uma transmissão. Tudo com válvulas, ligação na rede elétrica. Então já levei muitos choques. Uma vez estava puxando fio da rua, cruzou um caminhão com a caçamba erguida, enganchou no fio, arrebentou e pegou em mim”, detalha.

Na Fronteira do Sul, Brites permaneceu até 1975, quando a estação foi desligada pelo Dentel – Departamento Nacional de Telecomunicações –, por ordens superiores, devido ao fato de estar registrada no nome de João Goulart. “Quando ele foi para o exílio, deixou uma carta, passando a emissora para os funcionários. Mas ninguém foi na Anatel registrar, então permaneceu vinculada a ele, descobriram e nos tiraram a rádio”, lamenta. “A cidade ficou dois anos sem emissora, só contava com serviço de alto-falantes”, acrescenta.

Naqueles tempos, Brites, também conhecido por Bolachinha – apelido associado ao fato de, na adolescência, ser fã de bolachinhas de pacote que comprava nos armazéns –, já lidava no seu próprio negócio, aberto em 1972, efetuando consertos eletrônicos. Conciliou essa atividade com um pioneiris- mo: a consolidação da Rádio Cultura AM de São Borja, inaugurada em 1977. “O Mario Aquino e o Ney Brites vieram me perguntar se eu não montava a rádio”, conta. “Montei toda, até o prédio ajudei a fazer o projeto. Fui na Rádio Guaíba, de Porto Alegre, olhar os estúdios, e aqui fizemos no mesmo padrão”, menciona.

De lá para cá, permanece ligado à emissora e também à Rádio Fronteira FM, para cujo surgimento teve o mesmo protagonismo, em 1984. Depois da aposentadoria, em 2001, prossegue atuando como autônomo, para diferentes empresas. Aliás, sempre que pensa em parar ou dar um tempo, a necessidade de sua assistência fala mais alto. “Um dia fui para Porto Alegre, com a família, e me preparei para ir para a praia. Me ligaram, uma das rádios estava fora do ar. Tive que pegar o ônibus, voltar, solucionar o problema e só depois retornar para passear um pouco”, lembra.

No passado, chegou a ser técnico também do Cinema Presidente. “Era no tempo daquelas válvulas antigas. Modernizei tudo, e passei para o sistema de transistor”, comenta.

Sempre buscando atualizar-se, fazia todos os cursos possíveis e colecionava revistas de eletrônica. Em 1984, passou o ano frequentando, em Porto Alegre, uma formação profissionalizante na Escola de Comunicação Maurício Sirotsky Sobrinho, da Fundação Educacional Padre Landell de Moura. Obteve o registro de radialista, na função de técnico de manutenção de rádio. Também se dispôs a transferir seu conhecimento. “Durante muitos anos dei curso de eletrônica, aqui em São Borja”, cita.

O terceiro filho dos treze que o casal Somário Pinto Rodrigues e Vicentina Brites Rodrigues trouxe ao mundo, são-borjense criado no Passo, tem orgulho de seus filhos. Luis Fernando e Moisés seguem a tradição do pai, à frente da Eletro Brites. Cezar Augusto, formado em Jornalismo pela Unipampa, possui uma editora e tem trajetória em rádio. Já Sérgio trabalha com auto-elétrica.

Na loja, entre as relíquias que conserva, é possível ver rádio antigo, gravador de rolo e até mesmo vitrola. Na jornada diária, não lhe faltam a sintonia nas ondas hertzianas e a companhia da cadelinha Preta, além da visita de amigos e clientes de longa data. Atualmente atende às mais diversas áreas, não se restringindo a aparelhos sonoros. “Ar-condicionado, geladeira, micro-ondas...tudo que é eletrônico”, exemplifica. “Até engenhos, várias vezes consertei”, salienta. “Quando dá pane em equipamento, vêm aqui e me consultam. Vou e arrumo. Sou ‘pau pra toda obra’”, sintetiza. “Não quero desfazer dos outros técnicos, mas muitos são só trocadores de peças; eu, se não tiver a peça, reconstruo. Tudo o que peguei para fazer, consegui solucionar”, comemora.